domingo, 4 de janeiro de 2009

o post que ninguém vai ler


2008 foi --

foda-se. ninguém quer saber sobre 2008. aliás: eu quero. mas eu não conto, porque sou saudosista, anacrônico e masoquista, e portanto fico horas pensando sobre as coisas que foram, que aconteceram. e tenho uma sintomática pecha para o sentimentalismo, o piegas, o kitsch. mas de qualquer forma, eu precisei olhar para 2008 para entender algumas coisas importantes, incluindo aí este blog.

eu tenho uma relação dúbia com esse tipo de texto, porque se por um lado acho que escrevo um blog para compartilhar impressões, de alguma forma sempre me parece meio pretensioso ficar publicando opiniões, como se estivesse pregando. mas num segundo momento percebi que me preocupar com isso tem mais a ver com medo de não ser levado a sério e de me preocupar com o que os outros pensam do que realmente querer fazer algo "certo".

então, como um exercício de foda-se, acho que me devo escrever esse texto. nem que seja só para mim - já que, no fundo, por mais que sejam assim públicos, blogs me soam como coisas feitas para serem escritas, não lidas.

olhando para o início de 2007, havia uma intenção de criar um blog que me ajudasse a disciplinar a prática do desenho. foi para isso que eu ingenuamente comecei o projeto 52 - e digo ingenuamente porque qualquer um que desenha sabe que uma ilustração por semana não faz de ninguém um desenhista, a não ser que você tenha uma pegada "natural" muito boa.

a iniciativa acabou morrendo na praia na metade do ano. claro que minha primeira reação seria explicar isso com as desculpas de sempre: ano difícil, complicações profissionais, processo de mudança de casa, falta de tempo, bla bla bla. e tudo isso é verdade mesmo. essas coisas todas, juntas, criaram um cenário pouco favorável, que exigiu de mim rever prioridades (como conseguir dinheiro para pagar contas). mas nada disso justifica a falta de disciplina nem de empenho para levar adiante.

nonetheless, aconteceu, e ponto. não há o que ficar discutindo.

fim de 2007. ainda em meio a mudanças (muitas delas, na verdade, adaptações a um cenário que já vinha se firmando nos últimos meses) eu resolvi retomar o projeto, focando agora num sketchbook moleskine que ganhei de um amigo que voltava de uma viagem de L.A. comecei a carregar esse sketchbook por todo lado, fazendo pequenos desenhos sempre que tinha alguns minutos ou algo digno de registro. esse processo seguiu ao longo de todo o ano de 2008 (não sem alguns atrasos e acochambradas) e a uma semana do fim do ano tive o prazer de completar essa segunda temporada, com 52 trabalhos publicados no blog.

(se você chegou até aqui lendo esse post deve estar pensando "e eu com isso?"; mas se você chegou até aqui mesmo com o aviso no título do post, merece ou é tão masoquista quanto eu. então, pare de reclamar e continue lendo.)

ao longo desse tempo, percebi certas coisas, aprendi outras tantas e fiquei inexoravelmente condicionado a aceitar alguns fatos sobre mim mesmo. entre eles:
  • eu sou um ilustrador, não um desenhista. não sei qual é a definição semântica correta (e claro, poderia ter ido pesquisar isso na wikipedia antes de escrever, só que aí perderia o momento literário do texto :), mas para mim, ilustrador é um cara que mostra conceitos visualmente - ou seja, ilustra idéias. desenhista é um cara que sabe desenhar. "desenha um cavalo?" "desenho." "faz um prédio em chamas?" "faço." "e uma cobra que engoliu um elefante?" "larga o Pequeno Príncipe evai estudar desenho, moleque!". enfim, um cara que sabe usar traços para produzir coisas reconhecíveis, literais ou não. e eu não sou um desenhista - sou no máximo um copiador. o que não é ruim, afinal (uma das coisas que aprendi ao diminuir a ansiedade quanto aos resultados de meus trabalhos). desenhistas, para mim, são caras como os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, ou o Will Eisner, o Angeli, o Laerte, o Dave McKean, o Mike Mignola, o Rafael Grampá. e foi tão bom descobrir isso, porque eu parei de me cobrar para sentar e desenhar 32 páginas em quadrinhos (embora a inveja por quem faz continue) e comecei a pensar em como eu poderia ser um melhor transpositor de coisas abstratas para formas e cores.
  • fazer um desenho por semana não fará de mim um desenhista. isso eu já sabia, mas quando comecei, parti daquela abordagem paleativa de que "antes isso que nenhum desenho por semana". mas qualquer pessoas que desenha profissionalmente sabe que ganho só vem com prática. e eu sou muito disperso - tenho mil áreas de interesse, infelizmente todas subestimadas por essa falta de foco.
  • trabalhar em espaços reduzidos impacta diretamente no resultado do trabalho. quando decidi registrar idéias de desenhos num molesquine pouco maior que uma carteira, não pensei que faria alguma diferença. ledo engano (desculpem o clichê). acostumado a trabalhar em folhas A4, depois dos primeiros desenhos percebi que eu tinha que rever minha abordagem de diagramação, material e até tema.
  • eu saí de uma proposta de desenho para uma proposta de design/ilustração. claro que o foco da segunda temporada já não era mais me dedicar a desenhos, mas na verdade essa mudança foi pavimentada no momento em que decidi explorar as idéias de um sketchbook, ao invés de desenhos temáticos, como no ano anterior. e isso só ficou mais e mais claro ao longo do ano - embora no meio do caminho eu tenha sim feito muitos desenhos.

descobri diversas outras coisas ao longo do ano, mas não vem ao caso colocá-las todas aqui (até porque nem me lembro de todas - ultimamente tenho tido altos bloqueios de escritor, e as idéias me fogem antes de eu chegar no computador). então sobra falar sobre a próxima temporada.

pensando nessa reflexão toda e vendo para que lado as coisa estavam caminhando, resolvi escolher um foco que me permitisse explorar ainda mais esse caminho do meio entre ilustração/design/layout/tipografia. a primeira escolha tinha sido criar estampas para camisetas, mas abortei a idéia porque isso exigiria mais de texto do que eu acho que gostaria nesse momento. pensei em algo mais aberto, e fiquei entre cartazes e cartões postais.

acabei ficando com a arte postal mesmo. primeiro porque são designs que abrem uma possibilidade prática de serem utilizados - eu posso efetivamente transformar isso em cartões postais, se desejar. e segundo porque me permitiria continuar aprimorando técnicas para desenvolver layouts em espaços reduzidos - na verdade, um cartão postal não é muito maior que as páginas de moleskine.

é, isso, então. eu gostaria de ter postado iso antes da virada do ano, mas não consegui por causa das correrias normais da época. mas isso pode ser um sinal, se você acredfita em sinais. talvez simbolize a necessidade de esperar os tempos das coisas, de ser menos afoito e ansioso, especialmente nessas datas tradicionalmente ansiosas. expectativas, aliás, que estão no topo da minha lista de resoluções para o novo ano.

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu li!

Anônimo disse...

eu também li e não me chame de masoquista!!!!!! Vou te "RSSar" assim não deixo de vir ver as novidades!

Anônimo disse...

Olha só, eu também li, em dois dias você já tem posts suficientes para contestar seu título. :-)

Foi inclusive um bom incentivo para voltar a ilustrar. Esse ato esmagado pela ansiedade e auto-exigência em se fazer um grande trabalho. Acho que se conseguiu obter o desprendimento necessário para isso em seu projeto já teve uma vitória.

Um abraço e boas ilustrações para 2009.

A. P. Leme Lopes disse...

Bem, eu tb vou cair nesse clichê de "eu tb li". Até porque eu li mesmo!

Cartões-postais são uma ótima idéia. A Sarah é uma que sempre me cobra enviar cartões pra ela, mas eu digo q ela me envia uns cartões lindos de Paris e aqui em BsB não tem nada parecido. Agora teremos os cartões do Cláudio. :O)

Abraços e bom 2009!

Ver a luz se há disse...

Eu sou masoquista sim
Adoro ler blogs principalmente quando o blogueiro é divertido.
Resumindo: Gostei do post!
Me identifiquei pois eu também tive uma puta inveja de quem sabe desenhar, e no máximo eu copio razoavelmente bem.
Sou estudante de Design grafico e buscava informações sobre cartões postais.
BjoOs e me mande um postal qualquer dia desses!

Carpe diem